segunda-feira, 10 de setembro de 2018

Reminiscência...

Teve dias que plausivelmente rememorei vários aspectos do meu passado. 
Desde a minha infância, até as lembranças mais antigas de quando comecei a delinear luzes e formas na minha tenra e pré formada consciência...acredito que foi a partir do meus três anos de idade.
Procurei de todas as maneiras averiguar a natureza do meu caráter, destrinchar contornos inócuos de minha alma, descifrar dilemas oblíquos de diretrizes malfadadas de minha alucinada e imperativa mente sonhadora.
Ah, minha infância...  
Como era doce o fulgor das manhãs quando acordava. Não tinha preocupação, o mundo não tinha problemas e catástrofes imensuráveis em sua história...nem fazia ideia a tal respeito...era tudo tão sublime e as vezes amortecido pelas tediosas e calorosas tardes, onde as horas nunca passava e eu ficava inebriado com as chatices do não ter nada pra fazer. 
Como sinto falta disso.
Agora, sendo um adulto com tantas preocupações, muitos problemas chegam alheio as causas que muitas vezes não sei bem como começaram. Apenas eu só queria poder realizar aqueles sonhos de adolescente imerso nas dificuldades e humilhações de estar sempre tangido como uma pessoa desprovida de caráter. De que maneira se contorna essa deficiência que lhe infligiram? 
Dois aspectos: Tendo uma postura agressiva daqueles que querem lhe rebaixar e saber o tanto quanto puder saber, seja lendo um livro, uma revista, assistindo um filme, um desenho ou série e pegar aquele frame de diálogo que diz algo que você não saiba e vai na internet saber o que é de fato, enfim, é estar a um passo a frente no que diz respeito a conhecimento. É se dar ao valor onde todos te acham insignificante, é estar onde tais indivíduos jamais estarão diante de sua limitada proficiência intelectual. Tais pessoas estão presas em seu senso comum e deixam que sejam felizes da maneira que acharem melhor, não dô a mínima e não espero nada de melhor de tais pessoas!
Mas, nem tudo é do jeito que esperamos...
Mal sabia, mas esses mesmo indivíduos, tão amargamente me desprezaram e submetendo ao nível de um Untermensch (sub-humano) tinham um trunfo na qual fui desprovido de minha consciência e de minha alma e que de uma certa maneira poderia ter me poupado ou evitado muito sofrimento em minha vida. 
Estou falando de malícia...

Não no sentido de mal caratismo, mas no sentido de astucia, de ludibriar, satirizar, submeter certos momentos ao seu favor. Digo isso pois o ser humano não pode viver num mundo tão hostil se não detiver de certos atributos, que não são fiáveis ou dotado de sentimentos nobres, pois no convívio de seus semelhante, isso é uma das peças chaves para um relacionamento. Tem de haver um pouco de maldade no coração pra poder lidar com aqueles que a todo momento irão lhe destruir num ambiente de extrema competitividade. 
Me faltou um pouco disso...Pois entendi, de maneira tardia, que o ser humano não pode viver em um determinado ambiente se não tiver um pouco de maldade no coração, pois logo percebi que eu não estava preparado para o que viria logo em seguida na minha vida e isso me levou a ruína. 
Tenho que confessar que fui muito ingênuo na minha infância. 
Mal sabia em relação a maldade da natureza humana e os malefícios imensuráveis que isso proporciona. 
Em parte não tive culpa nisso. Venho de uma geração onde o que se ensinava é que você deve obedecer, respeitar o próximo, dizer obrigado, por gentileza, me desculpe...e isso era transmitido de forma categórica e imperativa e infringir tais regras é penalizado no rigor do estalo do chicote. 
De certo, isso não era totalmente ruim, desde que aplicado com moderação pois ainda na infância não tínhamos noção do mal que podíamos causar a outras pessoas, mas no meu caso, acredito que isso foi aplicado de maneira tão dura, de austeridade ríspida e absorta que diluiu um pouco desse mal interior e acabou sendo canalizado para outras camadas do subconsciente e contaminou um pouco do meu caráter.

Digo isso pois tomamos atitudes intempestivas quando não é o momento adequado e quando o momento é bem conturbado e desolador a ponto de termos uma atitude mais dura e agressiva, tomamos um comportamento mais brando e aceitável sobre os resultados abrasivos de um embate quando estava exigindo mais atitude e nisso você fica com fama de fraco e imprestável. E nesse ponto já denota um desequilíbrio de caráter.
Eu fracassei...
Fracassei em muitos aspectos de minha vida. Da primeira namoradinha de infância, aos romances da adolescência, aos noivados e casamentos da fase adulta e o padecimento gratificante de ter um filho. Padeci com o que não tive e não pude ter. Tive que me contentar em ver ao longe tais experiências, seja num banco de uma praça qualquer ou andando sem rumo pelas esquinas sujas e barulhentas de uma cidade cinza, e ver o colorido de um casal que se amava com afagos e abraços e coube a mim apenas tentar imaginar como seria tal experiência, em amar e ser amado, em ser desejado e não ser visto apenas como uma figura lúdica, uma piada ambulante, que nada é levado a sério sobre o que eu sinto, sobre o que eu penso. Pois é justo nisso que tenho essas implosões emocionais quando não sou visto como uma pessoa humana, um ser desprovido de sentimentos, sendo que a todo momento meus sentimentos são feridos, são renegados e humilhados. A questão do romance, para mim, só ficou apenas num longínquo sonho de um adolescente iludido e desolado.

Fracassei pois assim foi constituída minha natureza, de uma pessoa dúbia, temerosa e amedrontada com as consequência, de comportamento intempestivo de momentos inoportunos, e de uma baixa estima em relação ao modo como encarar a própria vida.
Tenho comigo apenas aquela luminescência reluzente diante da obscuridade. Uma luz que abarquei com as mãos a ponto de mante-la acesa e proteger sua chama dos sopros tempestuosos vindo dos ventos da escuridão. Mas tem momentos que a luz acaba se apagando, minhas mãos são pequenas demais para manter a chama acesa e eu acabo caindo no abismo. E diante da vaga lembrança eu acabo me apegando na memória, o doce e acolhedor brilho reluzente resguardado na lembrança e apenas aguardando o momento oportuno de minha redenção final.

Depois não restará mais memórias triste, não restará mais espaço pra qualquer emoção desencadeada seja pela raiva, pelo remorso ou ressentimento.
Só estou cansado de lutar em uma batalha injusta, em uma guerra na qual estou despreparado e sem ter ninguém pra consolar quando eu estiver caído, no chão exaurido e abatido de tantas pancadas, de tantas dores...
Só espero que o fundo do abismo chegue logo pra que desse modo eu possa fechar os olhos e possa sonhar com mais calma e esperança por voltar a ver aquela luz. 
Um descanso merecido...


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