segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

Rascunhos de um Desabafo (nº04)

Desalentos e desencantos de uma cidade.

São Paulo, tantas dores e amores. O progresso em andamento e acompanhado de seu desalento e com ela, sua desumanização. A cidade cresceu e o homem se arrefeceu, foi imbuído nos percalços de seu desenvolvimento. Viramos engrenagens de uma máquina que não consegue mais parar, seu ritmo acelerado não conta mais com a bucólica sensação de apreciar a contagem do relógio, de ver e ouvir as horas matutinas e vespertinas, com seus regalos de um bom dia ou boa tarde. A cidade virou senhor de seu próprio tempo. Ela dita a maneira de como o mundo deve girar, somos forçados em demasia e de modo contínuo em manter uma força concêntrica que nos espreme pela sua necessidade e nos alivia pelas diretrizes de macros e oportunas beneficências que tanto necessitamos. Somos fascinados e fatigados pela sua dinâmica de movimento, em sempre expandir e crescer. Suas mudanças são sempre singelas, nunca de uma maneira ordenada, mas desordeira e alternada pelo impacto que causa em seu horizonte. Isso de uma maneira causa medo, cansaço e espanto. Deveras, somos organismos, que nutre e somos nutridos pelo apetite voraz de progredir, de transmutar, de ramificar-se para além de seus limites demarcados. Somos engolidos e expelidos pela natureza fisiológica de uma cidade que denomina um sentido urbano de sempre se manter em movimento. Essas peças apenas querem se manter uteis, se manter como uma chave que ativa suas inspirações, suas conquistas, seus medos, suas alegrias e seus desencantos. Somos apenas paulistas...

Av. 23 de maio, em fase de conclusão próximo ao Viaduto Paraíso, Largo. Guanabara e construção do Viaduto Bernardino de Campos. Ano 1968

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