sábado, 23 de julho de 2011

Na Calada da Noite nas Horas Mortas - Segunda Parte

"Só se vê bem com o coração, o essencial é invisível aos olhos."
(Antoine de Saint-Exupéry)

Quando percebi, havia sido transportado para uma outra época em um local desconhecido e vi algo que me deixou paralisado de tanto terror.
Naquele instante fiquei sem palavras e não pude discernir aquele momento em que me abstive de tentar fazer qualquer coisa. Aquilo foi impactante para o meu juízo, desafiava a minha lógica de uma maneira que meu subconsciente, de maneira autônoma, estava querendo ao menos saber o que era aquilo tudo.
- Isso seria eu??? Este homem velho, sou eu??? - Tinha feito essa pergunta porque vi na minha frente uma figura decrépita, encurvada e solitária sentado numa soleira de uma cabana que ficava ao sopé de uma montanha. A redor daquilo que acreditava ser eu mesmo numa época longínqua estava uma parede repleta de livros, dos mais variados temas e assuntos e podia jurar que seria exemplares advindas de todos os recantos do mundo. Todo conhecimento do mundo estava naquele ambiente que seria o quarto daquele homem, mas, assim que peguei um exemplar, vi que eram livros de páginas amareladas e não tinha nada escrito em suas folhas.
E foi quando aquele mensageiro revelou de fato quem era aquele homem:
- Esse homem na verdade seria o seu espírito! Está velho porque você levou uma vida promíscua e leviana. Você deixou de lado seus valores, seu altruísmo, em troca de coisas limitadas e quando mais o seu espírito precisou, você se deixou abater por preocupações supérfluas e efêmeras e deixou de acreditar naquele que de bom grado lhe concedeu o bem mais precioso que qualquer tesouro no mundo podia comprar.
Naquele momento não falei nada. Já sabia das respostas e não havia necessidade de procurar mais nada. O que era essencial ao coração não é visível aos olhos. Me deixei enganar pelas questões terrenas e me havia perdido em meio de minha próprias divagações ilusórias.
- Peço que me perdoe se fui arrogante. Achei que sabia de tudo e agora percebi o porque desses livros na estante, são conhecimentos sem qualquer conteúdo, que só serviram pra enaltecer a minha vaidade e inflar o meu ego. Desperdicei minha vida pra ser aquilo em que eu mais odiava e sucumbi ao delírios de uma vida desregrada e gutural. Eu fui um fraco.
Com as lágrimas invertidas em meu rosto, me prostrei de joelhos diante do mensageiro e ele ergue a minha cabeça e vi que ele já não tinha mais aquela fisionomia punitiva e inquisidora de antes, e foi quando ele me disse:
- Não se culpe tanto. Só queria lhe mostrar o que acontece em sua essência quando se leva uma vida fácil e desregrada. Você é humano e não estará livre das tentações e não há necessidade de se tornar um santo por isso. A sua encarnação estará sujeita a todos os tipos de privações, medos e necessidades que irão lhe acompanhar em sua jornada terrena, mas é através disso que você irá aprender a verdadeira essência do divino e a ser mais cortês e humilde com o seu próximo e que não adianta nada adquirir conhecimento se não for para um bem maior. Todos tem um dom em especial e não se deve perder a chance de aprender como usá-lo.
Neste momento, vi que meu espírito havia se rejuvenescido e sorriu pra mim junto com o mensageiro e foi quando ele me falou:
- Não tenha medo, tenha fé e não perca suas esperanças!
No momento que eu queria sanar minhas duvidas, fui levado de novo para o meu quarto e o catre onde eu dormia não era mais frio e solitário como antes e quando abri a janela estava tudo muito quieto e iluminado.